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Como tirar sarro de políticos e conservar os dentes

Rafael Capanema

09/04/2019 09h17

No final de 2016 eu comecei a publicar no Twitter edições cômicas de vídeos do Michel Temer. Como esta:

E esta:

E mais esta:

Era muito fácil fazer piada com um presidente que, no auge da impopularidade, teve 3% de aprovação. Passei meses publicando vídeos tirando sarro dele e não recebi um mísero xingamento, muito menos ameaças.

Em 2014 e 2015, fiz dois compilados de frases sem sentido da Dilma, que ainda não tinha os níveis de desaprovação pré-impeachment. Mesmo assim, de novo, nenhuma ofensa. As pessoas que odiavam a Dilma viram nas listas mais evidências do despreparo dela; as que a amavam passaram a adorá-la ainda mais pelo jeitinho atrapalhado.

Demorei um pouco pra fazer piada com o João Doria, principalmente naquele período de 2017 em que todo mundo — ou eu, pelo menos — tinha certeza de que ele seria o próximo presidente do Brasil (isso deve ter durado umas duas semanas).

Arrisquei a primeira gracinha quando ele mandou seu "bom recadinho" pro Alberto Goldman:

Um ou outro gato pingado me acusou de editar o vídeo maliciosamente. Mas a maioria das pessoas achou graça, seja as que gostavam do Doria, mas eram contra a sua saída precoce da prefeitura de São Paulo; seja as que nunca foram com a cara dele. E eu percebi que já era possível fazer piada com o então prefeito e conservar os dentes.

Daí teve um vídeo sobre a ração humana:

E outro com esta interação esquisita entre ele e a Anitta:

Corta pro biênio 2018-2019. Por enquanto, não fiz nenhuma piada com o Jair Bolsonaro.

Num primeiro momento, durante as eleições, porque ele estava no auge da popularidade e tinha (bom, ainda tem) muitos seguidores agressivos. Mais tarde, depois da facada, porque eu nunca faria graça com isso ou com a recuperação dele.

Mas chegamos aos dias de hoje, completados três meses de governo. A saúde do presidente está boa; a popularidade, nem tanto. O mais perto que eu cheguei até agora de cutucar a gestão atual foi neste vídeo com o senador Major Olímpio, da base aliada do Jair:

Talvez porque ninguém morra de amores pelo Major Olímpio, talvez porque o vídeo não tenha furado a minha bolha comuno-esquerdo-petralha, ou talvez porque "Secret Smile" do Semisonic tenha sido mesmo uma lembrança muito gostosa, passei imune mais uma vez.

Mas bastou que eu fizesse um comentário jocoso sobre o Olavo de Carvalho pra que o meu Twitter passasse uma semana infestado por pentelhos (cf. Fausto Silva).

Quando o UOL anunciou a minha chegada junto com a da Juliana e a da Susana, do blog Quicando, recebemos alguns comentários no Twitter acusando-nos, entre outras gentilezas, de sermos comunistas  talvez por causa do veículo em que trabalhávamos ou por sermos formados em jornalismo.

E, como tudo na vida, a tendência é piorar. Prevejo mais xingamentos porque, como já contaram nesta reportagem sobre a estreia dos nossos blogs, estão entre os meus objetivos no UOL entrevistar figuras controversas e publicar vídeos cômicos sobre o governo atual.

Mas acho que agora eu tô preparado pras pancadas.

O lado bom é que eu moro a um quarteirão da embaixada da Síria, que tem escolta armada da polícia 24 horas por dia. Qualquer coisa eu peço asilo lá.

(Ah, se você quiser ver todos os vídeos, eles estão aqui.)

Sobre o Autor

Rafael Capanema é formado em jornalismo. Trabalhou na Folha de S.Paulo e no BuzzFeed. Paulistano, mora em Madri desde 2015.

Sobre o Blog

Um espaço para entreter, tendo sempre o humor como norte, a partir da minha experiência como redator de entretenimento, repórter de tecnologia e autor de blogs nos primórdios.

Rafael Capanema